dezembro 26, 2013

dilemas de natal...


Como é que se divide a emoção entre a família de sangue e aquela que passa a ser nossa porque o coração escolheu  alguém de lá?
Porque é que temos de optar entre o amor óbvio dos que são nossos e dos que entram na nossa vida por acréscimo?
Porque é que o amor soma parcelas que não queremos na nossa equação e nos tira outras que sempre foram nossas?
E chega o amor para construir uma família noutra que já existe e que não queremos obrigatoriamente adoptar?
O amor é a coisa mais egoísta e matemática que tenho porque quando se escolhe uma pessoa, vem sempre agregada a ela uma soma que não se separa da equação.
Goste-se, ou não, é matemático.
E o amor não gosta nada de matemáticas.

dezembro 11, 2013

o meu dia


Às vezes custa-nos a acreditar que merecemos ser felizes, como se a seguir tivesse que acontecer algo mau ou negativo.
Talvez porque a felicidade nunca tenha sido facilmente alcançada...
Mas há o dia em que tomamos nós conta do rumo do destino.
E esse é o dia da nossa afirmação mais pessoal.

novembro 15, 2013



O coração é um músculo lixado porque quando nos magoam ele assume o problema como dele, encolhe e fica tão apertado que causa uma dor terrível.
Mirra e fica sem se mexer, como um cubo duro e que ocupa espaço sem nos deixar respirar.
Nestes dias em que o coração toma a dor da alma, eu estico-o e obrigo-o a doer ainda mais.
Puxo-o ao limite e passo aquilo que deveria ser a média de batimentos dele.
E ele segue-me.
E dói menos a seguir porque sabe que ainda aguenta mais.
O meu coração é o meu fiel companheiro, mas sou eu que mando nele.
E por isso ele só dói quando eu mando e não quando os outros me fazem mal.


novembro 12, 2013


O que é que se passa que há qualquer coisa que não se encaixa na minha cabeça?

outubro 29, 2013


Estou rodeada de mulheres de fibra na minha família.
A minha mãe é uma delas.
E eu devia honrá-las melhor e aprender com elas...
Mas teimo em trair sempre a razão e ser sempre a mais fraca das mulheres todas.

outubro 24, 2013

Em dias de chuva e Outono trabalha-se assim.

Da nossa vida faz parte a aceitação dos outros.
Aceitar o que já vivemos como um carimbo do nosso álbum de vida.
E o que chega de novo como meta de aprendizagem, mesmo que não nos leve a um lugar melhor.
Às vezes somos obrigados a abrir o círculo para que outros entrem, mesmo não querendo.
E a vida passa a ser regida pelo nosso eu integrado no eu dos outros.
Chegar ao centro de encontro de nós próprios é talvez um processo que demore toda uma vida.
Talvez não chegue esta vida para aceitar tudo...
E este processo que me soa a invasão, causa-me mais dor que conforto.


outubro 23, 2013

obstinação é amor


Escolhi um caminho.
E é por esse que vou seguir.
Dificultem-no.
Ou não.

outubro 18, 2013


Nas manhãs que ainda gelavam o nariz quando áamos à janela, já ela andava no campo desde madrugada.
A cozinha era aquecida pelo fogão a lenha, já tão negro de ter aquecido tantas mãos e tachos.
Sentava-me sempre numa mesa pequena com toalha de plástico ressequido e pegajoso e ficava a olhar à volta o verde ainda encolhido pela geada.
Havia uma taça castanha muito velha e já estalada, parada na mesa a marcar o meu lugar.
Usava-a sempre para misturar a cevada embebida em açúcar e mergulhar o pão com a margarina mais barata.
Fechava os olhos e aquele pequeno-almoço sabia-me pela vida, o melhor do mundo num só paladar, num só trago.
Lambia a boca toda à volta para apanhar o resto de cevada caida quase até às bochechas.
Vestia-me à pressa, sem banho tomado, e calçava as galochas.
E lá ia eu até ao cimo das escadas de mármore e gritava bem alto:
"Avoooooó Né?".
Ela gritava-me de volta no seu habitual cumprimento matinal.
"UUUUhhhhhhhhhhhhhh".
E eu seguia-a até ao rasto da sua voz e com o coração já tão cheio.

Hoje ao beber um café aguado no meio do meu trabalho e ao olhar pela janela para o céu frio e cinzento, procurei-a.
Não sei se anda lá por fora a cuidar dos animais e das plantas ou se agora anda mais perto de mim, mas senti saudades dela.
A minha avó era feita de aço, sem fraquezas, sem grandes afetos, nem choros, lutava ao frio e à chuva e à esturra do sol, por ela e pela família, era uma sobrevivente, sem ganâncias ou deslumbramentos pelo material, nem pelos outros.
A avó que hoje  me falta, ensinou-me que só deixamos de batalhar no dia em que o coração decidir parar de repente...como o dela.
Mas há qualquer coisa aqui dentro que quando bate com mais garra é dela que vem.
É ela.

outubro 15, 2013


Entre o tempo que passou e o que a idade nos ensinou, percebemos que se acabam as borboletas no estômago e fica apenas o compromisso de buscar uma prioridade para cumpruir a nossa missão na vida.
Todo o resto são ilusões que pertenciam à infância.
Os tempos da ilusão morrem quando crescemos.

outubro 11, 2013


Chegou num fim de tarde de novembro.
Passou devagar pela rua acima enquanto o vento lhe abraçava o peito e abria o casaco pesado de fazenda.
As folhas de outono desviaram-se aos seus pés cada vez que pisou o chão, como se fosse dono de tudo.
Entrou e esboçou um sorriso vivo.
A pele fria e pálida fazia sobressair o negro do olhar escondido entre pestanas curtas.
Tirou as luvas de pele e pediu um chá quente.
O tempo não permitiu que se conhecessem o suficiente, ficou escondido entre tragos de sabor engolido à pressa.
Estendeu um convite e disse que o encontrariam mais logo naquela morada.
Ao levantar-se sorriu e saiu dizendo apenas sobre si que gostava do paladar dos coentros.
Chegou num fim de tarde. Livre.
E ficou.

saltos no tempo



Gostava de ter a pretensão de poder sonhar só com o meu mundo, à minha medida.
Os meus projetos, no meu tempo, na minha vontade.
No meu espaço privado entraria só quem eu quisesse, sem compromissos demasiado articulados.
Gostava de pensar em ter os meus filhos e que essa a vontade fosse partilhada numa esfera em que eu fosse a única dona, sem terceiros no somatório da minha família.
Planeei para mim tudo o que ouvi nos contos enquanto adormecia.
Planeei demais.
Gostava de amar alguém sem passado, nem bagagem, alguém que completasse comigo  um caminho que é o primeiro para mim.
À minha volta nascem e batizam-se os bebés das amigas, fala-se do próximo e fazem-se contas à vida para o encaixar.
E eu faço contas à idade e salto fases da minha vida, como se tivesse hipotecada a viver num fim de prazo, no fim do que ainda nem comecei...
E carrego eu o peso da decisão que foi minha e pergunto-me porquê...



outubro 08, 2013


A inveja é a forma distorcida que algumas pessoas encontraram para idolatrar outras.

setembro 26, 2013



Houve várias alturas na minha vida em que tudo o que me diziam e todas as ações apontavam para um desfecho negro e doloroso.
Ouvi muitos conselhos dos mais variados pólos a dizer-me que desistisse, que merecia seguir um caminho melhor. Pessoas que gostam de mim incondicionalmente e que não me querem mal... Mas nunca fiz nada do que me disseram.
Senti muitas vezes na pele a sensação do falhanço e do sonho falhado a meio do caminho, sem nunca vislumbrar a meta. Mas nem isso me demoveu de fechar as portas da alma.
Acendi velas e pedi aos meus guias que me indicassem o caminho e nunca ouvi que esse caminho era o do fim.
Houve muitos dias em que tudo me foi negado, em que tudo me fizeram para eu desistir.
E nesses dias adormecia sempre a pedir que a minha voz interior me tocasse com um sino na cabeça e não no coração.
Em todos esses dias em que muitas vezes o único sentimento que existia era o da raiva e da rejeição, em todas essas manhãs, a única voz que ouvi foi de calma e de perseverança.
Todos os dias ao acordar tenho ouvido alguém que me diz baixinho "continua Joana, segue o teu caminho, porque ele não chegou ao fim".

setembro 24, 2013


Os meus sonhos tornaram-se em pesadelos.
E agora como é que eu acordo do sonho e fujo dele?
E qual é o meu tempo?

setembro 23, 2013



Deito-me no sofá já a tarde cai.
Janelas abertas e um olhar perdido entre as paredes vermelhas e a varanda que não me traz uma brisa.
Rodo os olhos, como nas aulas de yoga, e asseguro-me que as minhas andorinhas continuam por cima de mim, na parede principal.
Percorro o olhar por tudo o que fui construindo com o tempo: os cd's de jazz e bossa nova, as fotografias a preto e a branco, os quadros regateados no Marais, as cortinas que precisaram de bainha, os móveis comprados em parcelas, as plantas...
Construí tudo devagar e praticamente sozinha, pela minha vontade, esforço e perseverança.
Aquele é o meu lugar onde ninguém entra para me roubar espaço nem sufocar, o meu porto seguro, onde ninguém se atreve a entrar se não me quiser bem.
Os budas e as velas circulam livremente no chão, acabando por reservarem lugares próprios de meditação.
Tudo o que consegui refletir de mim, do que acredito e do que amo está ali todos os dias comigo. E eu gosto de quem sou, assim como sou.
Passo os programas sem ouvir o conteúdo de cada um, quando a minha cabeça se afunda em pensamentos, não tem lugar para ouvir mais nada.
Não tenho medo do meu silêncio, nem de deixar que as horas me atropelem no sofá.
Medo tenho do que não comando e do que não escolhi.
Perdida em pensamentos no meu sofá, num fim de tarde de domingo em que busco a minha harmonia sei que há uma parte de mim que se apagou e me abrandou os ímpetos.
Do que já vivi, criei e destruí, de tudo o fui para chegar aqui, dona completa do meu tempo e de mim, sei que serei sempre uma lutadora, se for preciso andar descalça e voltar a construir um caminho, vou fazê-lo. Se precisar de recomeçar uma casa e as suas memórias, vou fazê-lo.
Se a vida me obrigar a reconstruir-me, eu sei fazê-lo.
Mas será que eu quero passar por tudo isso?



setembro 20, 2013

na essência do subtil


Acredito nos sinais das coisas.


E que as perguntas que faço para o ar, têm sempre um interlocutor.

Acredito que o tempo tem o seu tempo certo de acontecer.

E que o mundo nos rodeia diarimente com mensagens, lições.

Mas todas estas coisas acontecem no tempo que tem de ser, no tempo que faz sentido.

Não no nosso, cheio de pressa e vontade.

E é nesse equilíbrio tão imperfeito que encontramos a vida e o melhor dela.

setembro 12, 2013


Quando falamos com uma pessoa estrábica, para que olho olhamos?

setembro 09, 2013


Sabemos que estamos bem connosco quando acordamos cedo e saimos para correr num lugar que nos é estranho e não temos medo do tempo, nem do silêncio.
E corremos, orgulhosos por gostarmos tanto da nossa própria companhia que ela nos completa como se todo o mundo assistisse à nossa etapa.


agosto 23, 2013



Ajusto a bicicleta a mim, sabendo que hoje ela não me pertence.
Apagam-se as luzes e ecoam as primeiras palavras de ânimo para quem tem 1 hora para deitar fora suor e raiva e uma dor por dentro que precisa de resposta.
Baixo a cabeça e olho para os pés e peço baixinho que eles voem até não aguentar mais, mas hoje eu não comando nada.
Hoje não controlo os pensamentos.
Prendo um dos ténis num pedal e rebento os atacadores numa explosão de barulho.
Não sinto dor.
Mas é o atacador preso que me trava à força, como se a vontade fosse de explodir toda.
Tenho de desistir hoje. Foi a primeira vez.
Liberto o atacador e olho um pedaço de calçado rasgado.
Ficam sempre vestígios de uma dor que não sinto fisicamente.
Penso que nunca será nos momentos de raiva que me vou superar e chegar mais longe.
É preciso estar em paz para me ultrapassar e ouvir a razão de ser das coisas.


Podia virar o meu mundo todo ao contrário e começar de um ponto zero e iludir-me que isso apagaria todos os meus propósitos até aqui.
Se soubesse que ao mudar de país, de língua, tudo se apagaria para trás, eu fugia num avião.
Podia tomar drogas que me iludissem a memória e talvez a origem da minha vontade se apagasse também.
Podia tentar nascer de novo, noutra morada e inventava novas raízes e valores e virava-me do avesso.
Mudaria de nome e cortava o cabelo se isso me mudasse por dentro.
Eu podia tentar fazer tudo para ser outra pessoa, se eu soubesse que isso mudaria o rumo...
Se eu pudesse recuar no meu passado e mudar a origem da minha própria espécie, talvez eu pudesse ser quem não sou.
Mas dizem-me que se sair do país levo comigo as memórias de cá.
E dizem-me que se fugir ao meu próprio pensamento, ele trai-me e assombra-me de novo nem que seja num sonho.
Dizem-me que não adianta se a tinta do cabelo for mais escura, que ela não disfarça a clareza do olhar.
E eu faço equações do que posso apagar ou esquecer... ou negar tudo o que sou se em troca alguma coisa mudar.
Mas parece que nada adianta...
Na minha origem nasci com um carimbo de personalidade própria e vontade e projetos que hoje não me acompanham e não sei se parto de mim mesma ou se esqueço tudo o que quis até hoje.
Talvez se eu arrancasse esta pele, nascesse outra?
Talvez se me perdesse e deixasse cá a memória e o coração, talvez alguém me encontrasse diferente?
Vou ou fico?
Faço ou não faço nada ou tudo?
Eu podia mudar o mundo se soubesse que isso me mudaria a mim...

agosto 16, 2013



Gostava sempre de por as nossas duas fotos ao lado uma da outra. Ambas de perfil e a preto e branco. E dizia sempre: "não somos iguais?".
Nunca lhe perdoei a Barbie que me estragou, quando a atirou contra o sofá e a cabeça saltou como se sempre tivesse tido a vontade própria de sair daquele corpo cheio de mamas e cintura estreita.
Desafiava-me a paciência cada vez que me tentava domar à força, com palavras pesadas e moralistas. E eu retorquia de diversas formas, quando lhe atirei com uma maçã já mordida, ou quando corria à volta da mesa a desafiar que me apanhasse e travava até estar quase nas mãos dela.
Só lhe pedi uma vez que me levasse com ela à missa, queria fugir de uma miúda insuportável que brincava comigo lá em casa e não vi outra desculpa melhor. Na altura respondeu-me: "deves estar para aprontar alguma, tu não gostas de ir à missa".
Aprendi a cozinhar das tantas vezes que a observei e o sentido que ganhei pela casa e pela organização é dela. Uma cozinha nunca fica por arrumar e só nós é que o sabemos fazer na perfeição!
Gostava de comprar roupa, mas fingia que era só quando era mesmo necessário. Depois experimentava a roupa em casa e olhava-se ao espelho e perguntava: "achas que me fica bem?". E quer eu dissesse que sim ou não, era indiferente. Rematava sempre: "não me fica bem aqui... olha, vou trocar".
Fez sempre o que lhe apeteceu, mas disse sempre que era em nome dos outros. Mas não era verdade, era pela exclusiva vontade dela.
Não gosto de sopa por causa dela.
Não acredito na igreja porque me obrigou a acreditar em razões sem me saber dar os argumentos certos.
Sempre quis ser o oposto dela, mas o facto é que somos parecidas.
Ainda mantém alguns cabelos loiros, o resto inundou-se de branco.
Ficou apenas o olhar azul já sem ser tão reprovador.
Agora dispersa-se e troca as conversas e faz a mesma pergunta 100 vezes.
Se lhe contar tudo isto ela vai sorrir mesmo que não se lembre.
Mas lembra-se de mim, mesmo que tenha parado algures no tempo.
Mesmo que acorde no sofá à noite e pergunte: "a nossa Joaninha já chegou da escola?".
A avó Carmo tem alzheimer e está a ficar sem a vida que tantas vezes me irritou.
E eu ainda não percebi se aceito que este seja o nosso desfecho...

agosto 14, 2013


Os tempos mudaram por cá.
Acabaram-se os mergulhos rápidos na praia, quando o almoço permitia que o tempo fosse dono da vontade.
As pessoas tornaram-se mais sedentas de egos e de espertezas básicas como se tivessem regressado aos tempos da escola.
Não há festas nem bolos com velas para apagar, nem brindes onde acreditámos ser uma segunda família.
Come-se pior, mas paga-se menos. A qualidade passou a ser um capricho como se fosse um traço dos de direita.
Há menos amigos e menos gente feliz. Há menos gente. Menos almas a pôr alma nas coisas.
O Natal já não nos emociona se vier acompanhado de bolo rei. Já não há bolo rei.
Lisboa deixou de ser um porto de abrigo e um escape nas horas em que o sol cortava a direito a rua do Alecrim.
Aqueles que chegam já não têm vontade de aprender e acham que dominam o mundo como se tudo fosse um direito adquirido e sem obrigações. Acham-se iguais quando ainda não deram provas de o merecer.
Os tempos mudaram-nos.
Separaram-nos de amigos e criaram buracos de afetos e desconfiança.
O medo passou a fazer parte do nosso cartão de visita e o sonho de nos ultrapassarmos a nós próprios acabou.
Os tempos mudaram por cá.
Com menos empenho, crença, com a vontade roubada à força e o brio corroído pelos mais pobres de espírito, desencontrámo-nos do tempo em que eramos pioneiros de qualquer coisa, nem que fosse da ilusão.
Aquele tempo em que achámos que seríamos alguém e saboravamos os dias com o paladar que só a vida dá, só a vida tira.
Aquele tempo que felizmente também já acabou, mas que era mais rico do que este que nos obriga a viver sempre com tão pouco...
Tão pouco de espírito...



agosto 09, 2013

se parte de ti existe com o olhar que te vi, então apaixonei-me por ti!

da natureza das coisas

Há um código genético que me desenha como uma peça certa, sem desvios, ou mutações e me define em linhas e curvas previstas, sem interrupções, apesar de ser inconsequente.
Um código que dita desde os primeiros passos, o sentido do caminho, regido pelo curiosidade do que não se viveu ainda.
Há um código genético que me define como uma assinatura fixa que vinca o papel.
É um código que é meu e que não assimila muito as regras alheias.
Um código genético que me define as decisões e as vivências e que não consegue importar-se com a moral dos outros.
No meu código genético está a vontade que me rege a vida e que não abandono em prol de ninguém.
Imperfeita, mas fiel ao que busco, o meu código genético não me admite que seja de outra forma. 

agosto 08, 2013

"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a come...r direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar". Caio Fernando de Abreu

agosto 07, 2013



Quanto mais viajamos, mais percebemos que o lugar de onde viemos é pouco para o tanto que cabe em nós. E assim é o coração...também.

agosto 02, 2013

Há um combóio que me atravessa sempre o olhar, mas segue mais veloz do que aquilo que consigo alcançar. Há um combóio sem paragem para quem perdeu a primeira viagem. Um combóio que me leva o tempo à frente, como um castigo instalado de quem não podia falhar.

julho 05, 2013

aqui a pensar que...

Quando passamos muito tempo a ouvir uma verdade, mas ela não acontece, essa verdade passa a ser metade mentira.

julho 03, 2013

os heróis existem

Almoçamos quase todas as semanas como um ritual imposto, já não sei bem por qual de nós, mas talvez por mim e pela minha própria carência de o ver.
Passei parte da vida a cobrar mais tempo de qualidade, mais atenção, mais, sempre melhor e sempre me senti no direito de pedir sem observar se era preciso eu dar alguma coisa no retorno de tantos pedidos.
Cresci com a ideia que a ameaça do exterior não abranda o coração de um lutador e cada vez que me senti em risco de quebrar inspirei-me nele e na sua bravura meia heróica de quem não sente dor a nada do que verdadeiramente dói.
Uma vez, durante as nossas férias de verão, lembro-me que chegou tarde e anunciou que se tinha despedido da empresa onde trabalhava e sorriu, estava em paz.
Perguntei aterrada "e agora?".
E respondeu-me como sempre o vi: "agora começo do zero num lugar qualquer. Eu não tenho medo de trabalhar".
E eu ouvia estas coisas e sabia que tudo ia correr bem porque sempre foi assim, um bravo.
Hoje, volvidos anos e anos e diante de um país miserável que brinca aos politiquinhos sem espinha nem carácter, sento-me mais uma vez diante dele e ouço o mesmo: "vou fechar a empresa".
Perguntei novamente aterrada "e agora?".
E desta vez alguma coisa mudou nele: "vou bater à porta da Santa Casa e se for preciso peço ajuda para comer".
Os heróis não são frágeis.
Foi ele que me ensinou.
E ele é um herói.
E hoje quebrou.
Porque é mais velho, porque a idade amolece os músculos e o coração e a crença verga diante de um mundo que já não é o que construímos para nós e para os nossos filhos.
Não consegui chorar, nem ter um gesto de carinho. Não consegui nada, porque os heróis não sentem dor.
A pessoa que me ensinou estes anos todos a lutar para ser heróica também, hoje não o conseguiu ser. POrque nem sempre o podemos ser, não tem mal.
Mas mesmo que feche a empresa, mesmo que vá bater à porta de alguém a pedir ajuda, mesmo que deixe de poder ajudar os filhos, mesmo que perca tudo o que é material...
Mesmo assim.
O meu pai é um herói.
E se os heróis existem, só temos que os relembrar quem são e porque o são...
Porque são bravos por dentro, mesmo que doa, avançam porque a única coisa que não perdem é a dignidade.

maio 14, 2013

quase


Tive quase tudo.
Tive quase o casamento que quis.
E a casa quase com vista total para o mar.
Fui quase a mulher perfeita e feliz.
Tive quase sempre quem me fizesse os jantares e os pequenos-almoços.
Fui quase mãe.
Fui quase sempre a mais feliz.
Quase sempre a mais fugaz.
Quis quase tudo e o tudo que quis foi-me chegando às mãos como se os desejos fossem promessas de um futuro ainda melhor.
Amei quase tudo o que me foi possível amar.
Quase morri de amor.
Quase renasci quando o amor voltou.
Quase sempre fugi no meio dos processos de amor.
Quase sempre me desiludi.
Quase que tive pressa a mais.
Quase parei tudo num só momento.
Fui quase tudo o que quis na minha fúria de viver.
Mas até hoje nada passou de ser quase...
Quase é o tudo ou nada que tenho para perder.
Ou ganhar.
Mas e já não me acontecer quase nada?

maio 03, 2013

A fórmula perfeita para a estúpidez


Há pessoas à nossa volta que são ótimas para espalhar informações.
Exatamente aquele tipo de informação que queremos que todos saibam.
E são sempre aquelas pessoas a quem pedimos para não comentar nada, porque é segredo.

abril 09, 2013

É da minha natureza lutar todos os dias por ser feliz.
É da minha natureza percorrer metade do caminho sozinha se assim tiver que ser, mas eu acredito que no dia em que morrer sei que fiz tudo para ser feliz.
Mesmo que tudo corra mal.
Mesmo assim.
A minha natureza é a de procurar ser feliz...

abril 08, 2013

efeitos secundários de um ginásio


A coisa mais arrepiante do meu dia é ver,  por todo o lado para onde me viro, uma imensão de mulheres nuas e ouvi-las tão frenéticas e disformes que se confunde na perfeição com uma capoeira sem galo.

abril 06, 2013

Inventem-se novas histórias


Inventem novas histórias para crianças, mas não passem a vida a fechar os livros e a dizer que "foram felizes para sempre".
Porque o amor é uma bolsa que vamos enchendo com as  nossas próprias expetativas.
O amor é a bolsa dos desejos que nós temos para nós. Não é o que nos querem dar. Não é troca de afetos, apenas de expetativas.
O amor é a mais perigosa das miragens e ninguém nos avisou enquanto nos liam, ao adormecer, as histórias de encantar.

abril 01, 2013


Podia dizer-te que é mentira e que nunca quis que desses certo na minha vida.

E dizer-te que tudo o que vem a seguir é sempre para melhor, mesmo que seja a solidão.
Posso dizer-te que já passou e que aceito tudo o que a vida me dá como uma evolução para ser uma melhor mulher.
Talvez te consiga ainda dizer que as coisas são assim porque é como têm de ser e remato estes clichés com um sorriso de quem já cresceu muito mais com o sofrimento.
Hoje posso dizer-te que tudo o que se perde é porque não nos pertencia.
E posso contar-te que hoje estou muito mais feliz.
Posso dizer-te que não foi em vão que parti porque consegui encontrar as minhas metas.
Hoje, dia 1 de Abril, posso-te dizer tudo como eu quiser.

março 25, 2013

vender a alma ao diabo


Posso lá dar o coração e alma sem receber quase o mesmo em troca...
Posso lá ser mãe dos filhos que não tenho.
Posso lá entender o passado se não o vivi nem quero fazer parte dele.
Posso lá eu viver para os outros se não escolhi que metade deles fizessem parte de mim.
Eu posso lá ser outra pessoa se não escolhi aquilo que tenho, como tenho...
Aquilo que carrego e que não é meu e que devia estar a viver pela primeira vez... posso lá ser deles se eles não me pertencem.

março 20, 2013

a fé que é social

É vê-los todos a ir para as jornadas de boas vindas ao novo Papa e a ter muitas convicções morais e católicas.
E depois não sabem quem são como pessoas individuais, mas movem-se em rebanhos porque consideram que isso lhes molda o caracter e a posição no mundo e na sociedade burguesa onde habitam.
E eu gosto deste Papa.
E respeito a fé de cada um.
Mas a falta de sentido crítico e de reflexão interior assusta-me, principalmente quando são estas pessoas que representam as novas gerações que vão conduzir o mundo.

fevereiro 11, 2013

no segundo em que o presente é tarde demais

No dia 4 de Outubro de 2011 escrevi aquilo que era o mais seguro a que me podia agarrar, escrevi quem era e o meu feeling daquilo que estava a viver.
Hoje volto a reiterar quem sou, não falhei em nada.
O meu coração já partiu, eu vou atrás dele.

Há um dia em que acordamos com decisões tomadas.


Sem avisos prévios e sem despedidas anunciadas.

O dia em que acordamos e encerramos o ciclo.

O dia em que decidimos que acabaram as cenas de bastidores, sempre atrás da história real e escondidos dos olhares públicos.

Há um segundo que nos atravessa e molda o pensamento e segue o destino.

O segundo em que seguimos um caminho e deixamos outro.

É no dia em que deixamos de permitir ser a sombra de alguém.

No dia em que já partimos, alguém se lembrará da saudade que a partida causa.

É. No segundo em que o presente se tornou tarde demais.

O dia da decisão é quando não o planeámos sequer.

fevereiro 05, 2013

zona de conforto

“O mal não é voltar atrás das decisões, é não ter tentado tomá-las.

Se não conseguirem… não tem mal, tentaram, mas se não tentarem ir sempre mais longe, nunca vão saber se conseguiriam.
Se não conseguirem, não faz mal, voltem atrás. A sério, sem vergonha.
Pode-se sempre voltar atrás.
Por isso tentem sair todos os dias da vossa zona de conforto, sem medo.
Mas se o medo falar mais alto, então fiquem aí na vossa zona de conforto e não tentem mais nada, só não se queixem depois.”

É essencialmente por isto que faço desporto, porque vai para lá do óbvio de um esforço físico, é essencialmente mental, essencialmente uma conversa para mim.
E é bom ouvir aquilo que a cabeça já nos devia dizer todos os dias.

janeiro 14, 2013

Com a idade e com o tempo que passa, aprendemos que tudo tem uma razão de ser.

Deixamos arrefecer o sangue que nos corre e medimos o pulso aos outros, para saber se vale a pena lutar por eles, ou deixá-los cair.
Percebemos que a inveja fará sempre parte da relação humana dos mais fracos e que o mundo nunca gostará por inteiro de nós.
Começamos na escola com o miúdo que nos magoa sem critério, ou no primeiro assalto quando acabámos de receber o relógio novo que custou a comprar.
A vida é mesmo assim, prepara-nos apenas para sermos os mais fortes.
Depois crescemos e a pequenez dos outros é mais refinada porque se criam filtros e perde-se a coragem de se ser frontal.
Tornamo-nos completamente autónomos da defesa dos mais velhos, dos que supostamente no início nos protegiam e seguimos por nós, sujeitos aos tropeções dos fracos que serpenteiam aos nossos pés.
Aprendemos a criar defesas e rezamos para não nos transformarmos em seres amorfos que só sabem falar quando não têm espectadores.
Ensinam-nos que temos de saber viver pacificamente em comunidade e acabamos por lidar com um grupo de pessoas que compete por tudo connosco: a inteligência, os sapatos e o casaco, compete com os laços que criamos, com a família e o amor que temos. As pessoas competem sempre connosco por aquilo que não têm.
Passamos a vida a relativizar, já não respondemos “olho por olho, dente por dente” e vamos criando rios que nos separam dos outros, criamos uma imunidade banhada pelas defesas da idade, cada categoria de pessoas assume um lugar.
Aprendemos que a defesa é uma fórmula matemática.
Sempre tive tendência para ser protagonista da vida dos outros, comentam-me como se eu tivesse optado por ser figura pública, ou como se me quisessem despertar a atenção.
Sempre gostaram de falar de mim, de fazer comparações e análises sobre alguém que julgam conhecer. São sempre pessoas a quem damos menos atenção.
Nunca quis apurar os meus filtros.
E sempre escolhi continuar a ser a mesma, sem grandes teias, sem me importar demasiado com a aparência do papel público e com encenações. A vida preparou-me para fazer parte dos mais fortes, mesmo que isso seja polémico, cru.
Os outros? Os que falam? Os que espalham fórmulas morais sobre nós? Esses outros que nos foram ensinando ao longo da vida a sermos os mais fortes?
A esses também devo quem sou.