março 29, 2012

Nos momentos mais duros, ninguém anda connosco ao colo.
Nos momentos mais doridos, caminhamos, solitários, mesmo que uma multidão caminhe ao lado.
A esses momentos chamo de reflexão interior.
Da soma de tantos desses momentos nasce então a decisão.

março 27, 2012

ó faz favor!



Vamos lá ver se nos entendemos:




para as pequenas presenças rastejantes que andam por aí a lamber o chão e que às vezes tenho medo de as pisar por não as ver, para essas não há fraquezas, nem má língua que me abale.
E só volto a perder tempo com elas porque teimam em continuar a ler o meu blog.
Mas continuem a falar, porque me alimentam o ego e ele tem de ser muito bem alimentado, já que eu própria o esqueço.

março 21, 2012

o meu obituário



Perguntam-me pela manhã o que gostaria eu que escrevessem no meu obituário.
Perguntam-me no começo do meu dia o que quero eu que escrevam no meu fim.
Pergunto-me, eu, todos os dias, que metas ainda não tracei para sentir que não alcancei nada de forte. Eu pergunto sim. Demais. Sem pudor de assumir as minhas fraquezas. Nenhum!
Vejo um vídeo sobre um movimento de salvação de crianças exploradas em África e penso "bolas o que eu queria mudar o mundo de alguém" e nem dois dias depois percebo que o inferno nos vende boas intenções e que isso se chama marketing político.
Vejo Instituições de cara lavada que acolhem crianças mal tratadas e se apresentam como as "novas famílias" e depois saem notícias de abusos sexuais e de maus tratos dentro dessas famílias perfeitas.
Pergunto-me se criei uma ilusão pintada a cor de rosa e se não me sinto preenchida porque criei apenas ilusões de verdades falseadas. E na verdade o que eu acredito não existe.
Mas a verdade falseada vende e é premiada.
"Vês esta senhora aqui? Pertence à lista da Forbes como uma das mais recentes bilionárias. Inventou as calças push-up".
Falta-me uma ideia, eu sei. Talvez porque não saiba mentir sobre a verdade, nem construir verdades pela metade. Erro meu, falta de benefício meu e de criatividade.
O que é que gostaria que escrevessem no fim da minha linha?
Que fui uma mãe maravilhosa e que tive uma vasta família e que isso foi a mais gratificante construção de um império, que espalhei afeto, que a minha mais-valia foi a transparência nunca deslumbrada ao poder ou ao dinheiro, que aquilo que me destacou dos outros foi saber alcançar metas pelo coração e levar os outros a um caminho mais feliz. Mas isso não me fará sair na Forbes, nem me tornará famosa, nem me dignifica socialmente, nem é uma profissão e é talvez pouco.
E o tempo foi-me passando, fugindo e nenhuma destas metas foi cumprida na verdade. E a família vasta nunca existirá a não ser que adote outra que não minha e ninguém faz carreira com o coração.
E por isso... teria talvez que nascer noutro corpo, noutra cabeça para ser o orgulho de alguém e sair numa página de um jornal, ou revista e vender as minhas ideias ao mundo.
Teria de falsear a verdade para ser aclamada no meu obituário.
Então não escrevam nada sobre mim.
Obrigada.

março 20, 2012

meninas perfeitas não são deste blog



Podia ser formatada para trazer a caixinha de plástico com o jantar ressequido de ontem e almoçar hoje.
E podia ir à missa aos domingos e mentalizar-me que é útil pôr as crianças na catequese e integrá-las nos grupos católicos que se espalham pela cidade e espalham moralismo como os cogumelos.
Podia ter uma aliança no dedo e ter-me ficado pelo mundinho que me rodeou desde a infância até há poucos anos e falaria das idas à neve e das compras em NY e das botas de salto compensado compradas nos últimos saldos.
Podia fazer almoços de família lá em casa e criar novas receitas do grupinho da bimby e querer ser sempre a dona de casa perfeita e prendada.
Podia não pensar em questionar tudo e aceitar a vida como ela é e dizer "graças a Deus" mais vezes e pedir aos outros que se ligassem mais a Deus para seguirem o caminho certo da penitência.
Podia ter aulas de grupo onde as mulherzinhas que as habitam vão todas com roupinha a condizer, falam enquanto se abanam flacidamente e a única coisa em que não estão interessadas é fazer desporto e apenas dão à língua.
Podia combinar jantares de gente amarga com a vida e passar a noite a medir quem pôs mais likes no facebook.
Podia e tive tudo para ser mais uma menina convencional, formatada e resignada ás rotinas e aos padrões sociais. Rodeei-me de tudo para ser pouco, porque o mundo se faz maioritamente de gente assim.
Podia ser assim. Seria mais uma pessoa integrada no padrão.
Mas não me encaixo.
E então?

Reclamações não são aceites, nunca disse que era diplomata.

bruxinha a voar



Queria que o meu sexto sentido não fosse tão certeiro.



Queria.