setembro 15, 2011



Os cafés tomam-se sempre nos intervalos de qualquer coisa, pensei.
Como tu na minha vida, que apareces sempre como o café que falta tomar num dia sem despertador de consciência.
A vida desliza entre nós e separam-nos as correntes que escolhemos apanhar, como um mar que se rasga com uma prancha mais fina, ou mais larga.
E esquecemo-nos quase do que fomos, arrumados numa gaveta que pertence ao passado.
Segue-se sempre com a calma de qualquer reencontro, apenas com paladar na memória.
A vida nunca se retoma do ponto onde se rompeu, mas do começo do que nasceu e do que ficou para marcar uma vida na outra.
Os cafés que, mesmo bebendo à noite, não me dão sono, são contigo.
Nos intervalos de mim reencontro-te para me apaziguar na tua já calma conquistada de uma vida mais à frente da minha.
Quantos anos precisei para saber ver a água sem ser turva?
Envelhecer tem esse sabor delicioso de amadurecimento do coração, da cabeça, da alma e envelhecemos sempre à mesma distância e na mesma diferença de tempos tão diferentes e desencontrados. Mas é bom ver o que se viveu e dar valor, mesmo que já tenha passado, faz parte do processo de arrumação. É crescer, contigo na distância certa e marcada pelo meu tempo no teu.
O tempo que nos voou, mas teremos sempre os cafés nos intervalos dos caminhos paralelos.
Os cafés com espuma e a ferver, os cafés arrefecidos e queimados, os pacotes de açúcar por ler, teremos sempre os cafés. Nos intervalos da vida. De duas vidas. Separadas.
Esse é o melhor lugar onde guardar um grande amor, já vivido, já passado. Amor guardado.
Foi num café, num intervalo da vida, que me captaste o melhor sorriso, o único dos olhos, até hoje… Após um café.