agosto 23, 2013


Podia virar o meu mundo todo ao contrário e começar de um ponto zero e iludir-me que isso apagaria todos os meus propósitos até aqui.
Se soubesse que ao mudar de país, de língua, tudo se apagaria para trás, eu fugia num avião.
Podia tomar drogas que me iludissem a memória e talvez a origem da minha vontade se apagasse também.
Podia tentar nascer de novo, noutra morada e inventava novas raízes e valores e virava-me do avesso.
Mudaria de nome e cortava o cabelo se isso me mudasse por dentro.
Eu podia tentar fazer tudo para ser outra pessoa, se eu soubesse que isso mudaria o rumo...
Se eu pudesse recuar no meu passado e mudar a origem da minha própria espécie, talvez eu pudesse ser quem não sou.
Mas dizem-me que se sair do país levo comigo as memórias de cá.
E dizem-me que se fugir ao meu próprio pensamento, ele trai-me e assombra-me de novo nem que seja num sonho.
Dizem-me que não adianta se a tinta do cabelo for mais escura, que ela não disfarça a clareza do olhar.
E eu faço equações do que posso apagar ou esquecer... ou negar tudo o que sou se em troca alguma coisa mudar.
Mas parece que nada adianta...
Na minha origem nasci com um carimbo de personalidade própria e vontade e projetos que hoje não me acompanham e não sei se parto de mim mesma ou se esqueço tudo o que quis até hoje.
Talvez se eu arrancasse esta pele, nascesse outra?
Talvez se me perdesse e deixasse cá a memória e o coração, talvez alguém me encontrasse diferente?
Vou ou fico?
Faço ou não faço nada ou tudo?
Eu podia mudar o mundo se soubesse que isso me mudaria a mim...

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