agosto 14, 2013


Os tempos mudaram por cá.
Acabaram-se os mergulhos rápidos na praia, quando o almoço permitia que o tempo fosse dono da vontade.
As pessoas tornaram-se mais sedentas de egos e de espertezas básicas como se tivessem regressado aos tempos da escola.
Não há festas nem bolos com velas para apagar, nem brindes onde acreditámos ser uma segunda família.
Come-se pior, mas paga-se menos. A qualidade passou a ser um capricho como se fosse um traço dos de direita.
Há menos amigos e menos gente feliz. Há menos gente. Menos almas a pôr alma nas coisas.
O Natal já não nos emociona se vier acompanhado de bolo rei. Já não há bolo rei.
Lisboa deixou de ser um porto de abrigo e um escape nas horas em que o sol cortava a direito a rua do Alecrim.
Aqueles que chegam já não têm vontade de aprender e acham que dominam o mundo como se tudo fosse um direito adquirido e sem obrigações. Acham-se iguais quando ainda não deram provas de o merecer.
Os tempos mudaram-nos.
Separaram-nos de amigos e criaram buracos de afetos e desconfiança.
O medo passou a fazer parte do nosso cartão de visita e o sonho de nos ultrapassarmos a nós próprios acabou.
Os tempos mudaram por cá.
Com menos empenho, crença, com a vontade roubada à força e o brio corroído pelos mais pobres de espírito, desencontrámo-nos do tempo em que eramos pioneiros de qualquer coisa, nem que fosse da ilusão.
Aquele tempo em que achámos que seríamos alguém e saboravamos os dias com o paladar que só a vida dá, só a vida tira.
Aquele tempo que felizmente também já acabou, mas que era mais rico do que este que nos obriga a viver sempre com tão pouco...
Tão pouco de espírito...



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