novembro 25, 2015


Todos os dias a mesma rotina.
Ouço as notícias da manhã enquanto como os cereais com frutos vermelhos.
O trajeto de carro sempre igual e a rede do telefone falha sempre no mesmo ponto de passagem.
Paro sempre no mesmo sinal para atravessar a estrada e o cheiro a pão quente recorda-me sempre que o dia ainda está a arrancar.
Sou quase sempre a primeira a chegar e bebo um café de saco enquanto passo os olhos pelo jornal que distribuem gratuitamente na rua.
Há um frio silencioso na sala onde entro todas as manhãs.
Um frio que vem dentro de mim desde que saio de casa e enfrento um caminho que não foi o que planeei.
Nada do que leio ou do que vejo à minha volta me desperta gargalhadas.
Pareço adormecida, sem a garra de outros tempos para ir para a frente da multidão.
Da janela do lugar onde me sento todos os dias vejo um liceu onde brincam todos os dias dezenas de crianças, faça sol, ou um frio de rachar. Elas não mudam consoante o tempo, sentem-se sempre livres.
Do oitavo andar ouço as gargalhadas delas que ecoam de forma vazia em mim.
Quase que invejo a liberdade delas.
Quase que me atormento com a forma resignada com que perdi a minha...
Num dos artigos que leio, os portugueses fazem balanços da percentagem que vão gastar do seu subsídio de natal em presentes de natal.
Eu perdi o meu no dia em que decidi atirar tudo ao ar atrás de uma felicidade que nunca chegou.
Perdi os subsídios e a segurança e o poder.
Porque quis. Por vontade minha. Por achar que um grande amor merecia tudo isso.
Mas perdi tudo, fiquei sem nada porque esse amor abandonou-me na altura em que perdi tudo.
Às vezes ganhamos, às vezes perdemos.
Eu arrisquei tudo e perdi.
E passado quase meio ano sinto-me muito mais fraca e destruída do que no dia em que tudo ruiu.
Lá fora os miúdos correm e gritam, despertam-me a cabeça adormecida numa tristeza que não consigo combater.
Estou cansada de todos os dias ser só isto.
Perdi e então?
Um passo à frente...
O passo que não estou a conseguir dar para ser livre como aquelas crianças dali debaixo.

novembro 10, 2015


Hoje desviei o caminho da estrada e fui espreitar o mar.
Hoje o sol estava a pedir-me para ir atrás dele e deixar-me ficar, estava a pedir-me para não me mexer como uma roldana mal oleada que faz o mesmo movimentado esgotado, todos os dias.
E em vez de ir a correr para o meu novo trabalho, resolvi correr uns segundos para dentro de mim.
Perdi-me no meio de hortas e couves caseiras, sem ninguém, sem grandes produções.
Perdi-me no simples e isso não me assustou.
Parei em frente ao mar e sentei-me num muro com os pés a baloiçar no ar.
Como se não pertencesse a regra nenhuma, nem a agendas, nem às empresas dos outros.
Parei talvez 5 minutos. Terão sido 10?
Sei que ainda não sou aquilo que ambicionei.
Não sou quem planeei ser.
E agora?
Qual dos dois lados da balança devo ouvir?
Não sei dar-me as respostas certas.
Respirei fundo e voltei até à porta do carro.
Mas voltei atrás para ver o mar de novo, como se me falhasse alguma informação.
E pensei onde anda Deus que não dou por ele nos pormenores…


novembro 09, 2015

da minha natureza


Nos últimos meses tenho sentido que estou debaixo de água a tentar vir à superfície.
Sem sufocar.
Sem bater demasiadas vezes as pernas para aguentar o cansaço.
Nado, nado e ouço o coração  que parece às vezes querer deixar-me.
Nos últimos tempos achei que a dor me tinha domesticado.
Achei que o ritmo cardíaco tinha diminuído e a mente já estaria menos desperta.
A natureza faz sempre com que as feras hibernem, não é? Precisam de sobreviver.
Tenho andado assim.
A passar os dias para sobreviver à sua superfície.
Nada de grandes sonhos, nada de grandes crenças, nada de grandes coisas.
Ando zangada comigo porque pergunto o que me fizeram que me mantém debaixo de água.
Ando triste comigo porque estou lenta e resignada.
E as lutas todas que comprei sozinha?
E as que comprei com tanta gente atrás?
Tenho sido uma sobrevivente, mas ando a resgatar-me.
Mas há um segundo em que tudo muda no ritmo cardíaco.
Há um fragmento em que o corpo explode e sai da água.
Há um momento em que eu reapareço.
Há sempre um tempo em que a natureza exige que se regresse à origem do que é a nossa espécie.
E a minha nunca morrerá, nunca parará até eu levar o tiro certeiro.
A minha espécie é daquelas que adormece temporariamente, mas explode em personalidade quando a tentam destruir.
A minha espécie é daquelas que se fere toda, mas vai à luta para defender aquilo em que acredita.
Sou de uma espécie rara, das que não têm medo da dor, para afirmar a essência da natureza.
Mesmo que volte ao começo de tudo.
É mais forte que a minha espécie.

novembro 05, 2015



Sinto que cada vez que vou quebrar, há sempre uma força maior ao meu lado, que me vem dar a mão, até se cumprir o caminho...