outubro 26, 2015

i will



A luz ainda não entrou pela janela.
O organismo ainda não se adaptou à mudança de hora e acordo mais cedo.
São 07h30 e saio da cama.
Como pouco e visto-me à pressa.
A manhã não me sabe bem.
Atravesso o centro da cidade para ir fazer ginástica.
Enquanto o carro pára e arranca volto a pensar nas dificuldades todas que tenho passado.
É cedo e chegou a chuva e o frio.
A semana começou e o trabalho espera-me.
Sei que tenho de ter força para continuar.
Força para acordar mais cedo e mexer-me.
Força para me adaptar a todas as realidades.
Força para não desistir perante o que se mostra difícil.
Tenho um novo treino porque não posso fazer demasiado esforço.
Contenho-me entre o passo acelerado que quer correr, mas não deve.
Assim sem dor física nada me sabe bem.
Persisto no passo forte e acelerado e há uma raiva.
Na cabeça não me sai a mesma pergunta.
"Porquê".

outubro 22, 2015

declaração de vontade



Sempre pintei um cenário perfeito para a minha vida: o homem experiente e com uma vida estável, que quisesse ser pai.
Em sonhos chegava ao ridículo de planear qual seria a escola dos filhos que nunca vieram.
A minha vida era toda um ensaio, imaginário.
Uma tontice de uma mulher já crescida e pelos vistos pouco inteligente.
Tive alguns namorados e não tenho razão para ter vergonha porque a vida é feita de um somatório de vivências.
E eu vivi tudo o que me apeteceu.
Que privilégio.
Apaixonei-me perdidamente por poucas pessoas.
Dessas grandes paixões nenhum deles quis acompanhar os meus sonhos.
Carregavam todos uma mochila demasiado pesada para mim: com outras experiências mal arrumadas e filhos que assombravam a felicidade e a culpa.
Eu nunca soube lidar com os filhos dos outros.
Como também não fui o primeiro interesse de ninguém.
Os anos passaram e marcaram-me.
Hoje acredito menos nos outros e menos nas paixões arrebatadoras.
O que é demasiado arrebatador mata-nos.
Decidi que tinha de desistir do estatuto e do mundo recheado de jantares e promessas de uma vida a dois, de casamentos que nunca me foram propostos, nem filhos planeados.
Foi tudo pó.
Encontrei uma pessoa sem os requisitos que tinha traçado numa tabela de exigências.
Eu, esta palerma que acha que amor leva rótulos.
Nos lugares onde ficava sozinha porque alguém me deixava, ele estava lá.
Nos momentos em que me fui maltratada ele aparecia para me ver.
Encontrei uma pessoa que me aparecia a brilhar, quando eu o escondia para que ele desaparecesse.
E fui deixando ficar e percebi que mais do que deixar, a sorte era minha. Não dele.
Percebi que não há estatutos, nem apelidos sonantes, nem mochilas com filhos.
Não serei rica e vai ser duro sim.
Posso na mesma ficar sozinha. Posso sim.
Mas não escolhi uma pessoa de forma remediada.
Escolhi a única que até hoje me quis muito.
Que não me escondeu.
Que fez planos e os cumpriu.
Que não viveu vidas paralelas.
Escolhi o melhor para mim.
E bolas tenho uma sorte dos diabos.
Os outros?
O que a inveja os vai por a dizer?
Paciência.
Com o tempo passa.

Eu que o diga.

outubro 21, 2015



A porta já se fechou e não se deu por ela bater.
Não ficou nada do tempo para se viver ainda.
Ele não vai chegar mais tarde.
Ele esgotou-se mesmo antes de darmos por isso.
Não ficaram boas lembranças do pouco que se viveu.
Já passaram os créditos e a tela foi a negro.
Já não há espectadores porque já não há nada para ver.
Já terminou tudo.
Sem mais regressos no tempo que nunca foi o certo.

outubro 16, 2015




Uma das coisas que mais me realiza na vida é estar sentada numa bicicleta, quase às escuras e com a música a explodir nos ouvidos.
Há umas pessoas que vão ao psicólogo, outras desabafam mil vezes com o mesmo amigo, eu refugio-me aqui para arrumar as minhas coisas todas.
Não vejo mais nada à volta, não reparo em ninguém.
É como se tudo em mim fosse dar de si.
É o único momento onde sinto que mais um segundo quebro e caio.
Muitas vezes para ter força tenho de me lembrar dos meus últimos tempos de vida.
E imagino um descampado com poucas, muito poucas pessoas, mas as que foram as suficientes para tentar destruir a minha vida.
Imagino que passo por elas e que delas não resta nada, só pó.
É horrível, não é?
É a minha catarse.
Quase morro nessas aulas.
Quase choro.
Quase me acabo.
Mas saio sempre mais leve porque só acerto contas com elas no meu imaginário, até apagá-las de vez das minhas memórias.
Dizem que a vingança é um prato que se serve frio.
Eu também acho.
Mas não quero fazê-lo a ninguém.
O tempo fará tudo sozinho.
E nessa altura não só não sentirei qualquer alívio.
Como terei pena.

Por ver na vida a fórmula justa e matemática que o meu coração não conseguiu encontrar.

outubro 13, 2015




O telefone abriu sem querer fotografias que tinha esquecidas.
Julguei-as apagadas.
Tentei apagar a primeira que vi.
“eliminar?”
Como um anjo ou demónio que nos assombram a consciência, há sempre alguma coisa que nos pergunta e vem confirmar, “tem mesma a certeza que quer eliminar?”.
E é aí que vacilo.
Revi foto a foto, com um sorriso de saudade, de dor, com pena. E sempre a mesma pergunta “Porquê?”.
Não consegui apagar nada porque quero lembrar a consequência de cada momento que achei bom e depois me enganei.
Preciso de o fazer para não ouvir nem anjos nem demónios.
O tempo está fresco como a tinta que colo às paredes para esquecer a que ficou debaixo.
O tempo que passou ainda não é suficiente para secar por inteiro a dor do fracasso.
Meu Deus… o tempo esse malvado que assombra por ser tantas vezes rápido e outras tão lento.
As fotografias que se abriram sem querer vieram perguntar-me “quer eliminar?”.
E eu sei que é sim.
Terei de eliminar tudo.

Porque não suporto mais que o tempo saltite na minha cabeça como um dispositivo com flashes de sucessivos fracassos.

outubro 12, 2015



Cada começo de semana acordo sem vontade de recomeçar tudo de novo.
Às vezes acho que é da chuva e do Outono.
Outras acho que é o cansaço que se instalou depois de ter carregado a dor às costas sem me queixar.
Mas acordo e levanto-me e não dou hipótese de desistir ou falhar.
Não tenho tempo, nem vontade de sofrer mais.
E a vontade vem da força, das escolhas que fizemos.
Das escolhas que fazemos a cada minuto que passa.
Cada vez que desanimar sei que serei sempre livre porque escolhi.
Porque tenho sempre a opção de escolher.

outubro 11, 2015

da liberdade de se ser como se é...



Liberdade é poder dizer não a uma ordem que não aceitamos.
Liberdade é partir para longe quando tudo parece estar perto.
Liberdade é começar a vida do zero quando aparentemente já se tinha tudo.
Liberdade é optar por viver com menos dinheiro e passar dificuldades até ao fim do mês, mas dormir bem todas as noites.
Liberdade é procurar os risos e os sorrisos onde ninguém quer procurar.
Liberdade é escolher o melhor amor e não aquele que dizem que é nosso por destino.
A liberdade tem também um preço e custa caro.
E eu lembro-me disso todos os dias, principalmente nos dias em que adoraria viver no conforto e não ter de fazer contas a cada minuto do meu dia, mas sei que fiz a escolha certa.
A liberdade não é para qualquer um e por isso faz-me acreditar que um dia vou alcançar o tanto que sonhei.

outubro 10, 2015


Uma manta.
Um copo de vinho.
E os sacos deixados no chão do corredor com carne e fruta.
Enquanto a chuva bate nas janelas.
E eu penso que apesar de alguma tristeza, a grande tempestade já passou.

outubro 08, 2015

enquanto tento dormir, penso que...


Vivo num país onde há alguns imbecis que,acham que governa aquele que ganha menos votos...
 Pior só mesmo se o PS se coligasse com o PC...
Bem, tenho de ir dormir porque já estou a delirar


Decidi que mereço ser feliz.
Com tudo o que tenho direito.
E tenho todo o direito do mundo...

outubro 07, 2015


Uma das coisas mais gratificantes que a vida nos dá é o retorno.
Quando nunca fizemos nada para ajustar as contas da maldade que nos causaram...
E de repente tudo vai acontecendo sem mexer um dedo.
Tudo acontece da forma como tem de acontecer.
Por justiça.

ainda bem que quando nos magoam é sempre sem querer


- Como dizia um miúdo lá no colégio para outro mais pequeno, depois de sem querer lhe ter dado um pontapé no estômago, enquanto jogavam à bola: “tu és forte, tu aguentas”.