janeiro 29, 2016



Sempre acreditei que somos protegidos por forças maiores que não se vêem.
Mas sinto-as desde há muito tempo e nem sempre soube lidar com elas.
São os anjos de guarda que têm vários rostos.
Alguns são Orixás.
Os Orixás têm músicas e eu costumo cantar a música do meu Orixá à minha bebé.
É como se fosse a sua canção de embalar.
Ela ouve e acalma.
Eu sinto-me mais protegida assim e sinto-os perto.
E acho que também me embalam.
Ontem numa crise de choro acho que vi alguém passar.
Não sei se estou tonta ou não, mas sei que há energia a mais para sermos só nós.
O choro passou porque a minha bebé acalmou e a barriga parou de doer.
Hoje é dia de um dos meus Orixás, por dentro da roupa guardo um cordão de contas para lhe pedir proteção e eu acho que resulta.
Ele ouve e há qualquer coisa que me acalma.
E não há quem me tire da cabeça que ontem passou por mim…
 para me dizer que está a olhar pela minha bebé.
A bebé que lhe pedi que viesse, quando viajei até ao Brasil só para os reencontrar.


janeiro 25, 2016


A semana começou com a entrega intensa de pré-inscrições em creches com apoio social.
A minha filha ainda não nasceu, mas já sou obrigada a pensar mais além.
Se calhar planeamos tudo demasiado, mas se não for assim parece que perdemos o comboio.
As escolas onde entro são enormes e as crianças lá dentro parecem formigas num quartel, parece tudo muito frio e institucional.
Chove a potes e o dia não chega a ver luz, não ajuda a gostar dos lugares cheios de freiras e gente meio parada no tempo que não sabe atender duas chamadas ao mesmo tempo.
Numa das escolas somos recebidos por uma freira.
Ela é amorosa.
Diz-me com um ar muito preocupado que a experiência lhe diz que não se deve deixar bebés tão pequenos numa creche e que o melhor será ficarem em casa com os avós, ou alguém de confiança.
Ouço-a com um sorriso meio amarelo e penso que me está a dizer suavemente que a minha bebé não vai entrar.
Respondo que os avós trabalham.
E não lhe explico que ter a tal pessoa de confiança implica custos que se calhar não podem ser assumidos.
E também não lhe digo que por vontade própria nunca entregaria uma bebé de 4 meses a ninguém.
Saio com a sensação que não voltarei lá tão cedo.
Entro no carro e continua a chover.
Não me fixo em nada de especial.
Apenas na ideia que a vida que tenho não me permite ser mãe por muito tempo seguido e que viver nos tempos de hoje é muito mais duro do que quando eu fiquei entregue à minha avó para ela tomar conta de mim.
Ser mãe nos dias de hoje e não tendo um bom ordenado, é só para loucos.

Ou muito corajosos.

janeiro 21, 2016

Lembro-me que quando chegava a casa à noite, depois de sair até tarde com os meus amigos, ainda me ia sentar em frente à televisão a ver um canal internacional de desporto.
Comia bacalhau desfiado cru e bebia um copo de vinho tinto, esticava as pernas e o meu coração saltava cada vez que assistia a um combate de boxe.
Quando ele subia ao ringue era como se a superfície da minha pele recebesse um estímulo incontrolável.
O meu lutador preferido foi sempre ele.  Evander Holyfield. Lembro-me tão bem…
Acho que as raparigas sempre procuraram super heróis, ele era o meu.
E por isso o boxe sempre me esteve no sangue, como se pertencesse a uma matriz genética que não se escolhe, mas herda-se.
Passaram anos, mas o gosto não.
Numa destas noites resolvi que a melhor coisa que podia fazer para descontrair seria ir para a cama ver um filme… de boxe.
Porque estou grávida sei que fico mais sensível com algumas coisas, mas não mudei, sou a mesma. Movem-me as mesmas coisas.
Enquanto via o filme senti muitas vezes a barriga e pensei se seria a mãe certa.
A mãe certa vê boxe à noite para relaxar e pratica rpm e corre?
Se calhar não e isso faz-me pensar se as coisas que me movem existem por alguma dor mal contida.
Mas fazem-me feliz, então não há nada de errado.
Ou há?
A minha bebé tem sempre as mãos no ar quando a vejo através das ecografias e esperneia como se quisesse agarrar a vida em cada fração de segundo.
Será que um dia vai mover-se da mesma forma que eu?


janeiro 20, 2016


Há uma máxima na vida que devemos aplicar todos os dias, principalmente quando estendemos a mão para ajudar alguém e levamos um corte.
É que Deus dê em dobro aos outros tudo o que eles nos fazem.
Eu diria que é uma máxima muito boazinha.
Como eu sou.

janeiro 19, 2016

As mesmas segundas que me irritam, são as mesmas segundas que me fazem mover nem que seja pela irritação que sinto.
Volto para a bicicleta e para as minhas aulas de rpm.
Às vezes esqueço-me que já não estou sozinha e que tenho de me moderar.
Há um bem maior que é a minha bebé e está a crescer na minha barriga.
A barriga que não pode dobrar, o coração que já não pode disparar da mesma forma, nem as pernas podem carregar os pedais com o mesmo esforço.
No fim da aula saio com a sensação que todos me observam como se fosse desadequado fazer desporto.
E, convenhamos, que a minha bebé não adora sempre a ideia de me ter a pedalar, prefere ser ela a dar aos pés por mim.
Vamos ter de negociar com calma.

janeiro 18, 2016



As segundas são o dia em que tenho de recomeçar tudo.
Tudo o que ainda não quero começar.
São o dia em que sinto que ainda não descansei.
O dia em que sinto que recomeça tudo de um passo atrás, ainda mais atrás.
Onde não há café que me desperte.
Nem força para dar o passo que parece ser sempre o primeiro.
A segunda é o pior dia da semana.
Quando sei que vem aí tudo outra vez.

Uff…

janeiro 12, 2016

bruxa é o meu nome do meio


Adorava não ter a capacidade de ler as pessoas mal as vejo na primeira impressão.
Mas a energia que vem de algumas pessoas é pior que um choque eléctrico.
O que eu gostava de me enganar na primeira impressão e assumir que afinal era eu que estava errada.
Ou não...

janeiro 05, 2016


Como é que eu explico às pessoas, sem ser mal educada, que odeio que me tratem por você, só porque acordaram nesse dia possuídas e em versão tia de Cascais semi acabada?
E será que também posso explicar que  levar secas de meia hora de alguém que não se cala, me sufoca?
Ai as hormonas!


Depois de quase 4 meses parada, voltar à rotina de me mexer é quase como andar pela primeira vez.
Depois de ser forçada a abandonar a corrida e o rpm por correr riscos de perder a gravidez, limitei-me a ver os outros através de uma montra e como uma criança que não pode comer o chocolate, só me apetecia chorar.
Mas agora já passou.
O regresso é sempre emocionante e doloroso.
Mas é como renascer e reencontrar-me.
E enquanto volto a dar os primeiros passos nos desportos que mais amo, penso sempre

“esta sim, sou eu”.