janeiro 21, 2016

Lembro-me que quando chegava a casa à noite, depois de sair até tarde com os meus amigos, ainda me ia sentar em frente à televisão a ver um canal internacional de desporto.
Comia bacalhau desfiado cru e bebia um copo de vinho tinto, esticava as pernas e o meu coração saltava cada vez que assistia a um combate de boxe.
Quando ele subia ao ringue era como se a superfície da minha pele recebesse um estímulo incontrolável.
O meu lutador preferido foi sempre ele.  Evander Holyfield. Lembro-me tão bem…
Acho que as raparigas sempre procuraram super heróis, ele era o meu.
E por isso o boxe sempre me esteve no sangue, como se pertencesse a uma matriz genética que não se escolhe, mas herda-se.
Passaram anos, mas o gosto não.
Numa destas noites resolvi que a melhor coisa que podia fazer para descontrair seria ir para a cama ver um filme… de boxe.
Porque estou grávida sei que fico mais sensível com algumas coisas, mas não mudei, sou a mesma. Movem-me as mesmas coisas.
Enquanto via o filme senti muitas vezes a barriga e pensei se seria a mãe certa.
A mãe certa vê boxe à noite para relaxar e pratica rpm e corre?
Se calhar não e isso faz-me pensar se as coisas que me movem existem por alguma dor mal contida.
Mas fazem-me feliz, então não há nada de errado.
Ou há?
A minha bebé tem sempre as mãos no ar quando a vejo através das ecografias e esperneia como se quisesse agarrar a vida em cada fração de segundo.
Será que um dia vai mover-se da mesma forma que eu?


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