O telefone abriu sem querer fotografias que tinha
esquecidas.
Julguei-as apagadas.
Tentei apagar a primeira que vi.
“eliminar?”
Como um anjo ou demónio que nos assombram a consciência, há
sempre alguma coisa que nos pergunta e vem confirmar, “tem mesma a certeza que
quer eliminar?”.
E é aí que vacilo.
Revi foto a foto, com um sorriso de saudade, de dor, com
pena. E sempre a mesma pergunta “Porquê?”.
Não consegui apagar nada porque quero lembrar a consequência
de cada momento que achei bom e depois me enganei.
Preciso de o fazer para não ouvir nem anjos nem demónios.
O tempo está fresco como a tinta que colo às paredes para
esquecer a que ficou debaixo.
O tempo que passou ainda não é suficiente para secar por
inteiro a dor do fracasso.
Meu Deus… o tempo esse malvado que assombra por ser tantas
vezes rápido e outras tão lento.
As fotografias que se abriram sem querer vieram perguntar-me
“quer eliminar?”.
E eu sei que é sim.
Terei de eliminar tudo.
Porque não suporto mais que o tempo saltite na minha cabeça
como um dispositivo com flashes de sucessivos fracassos.
1 comentário:
Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu mais ou menos isto:
"Presta atenção aos sinais e não deixes que as loucuras do dia-a-dia te deixem cego para o melhor da vida. O amor..."
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