outubro 13, 2015




O telefone abriu sem querer fotografias que tinha esquecidas.
Julguei-as apagadas.
Tentei apagar a primeira que vi.
“eliminar?”
Como um anjo ou demónio que nos assombram a consciência, há sempre alguma coisa que nos pergunta e vem confirmar, “tem mesma a certeza que quer eliminar?”.
E é aí que vacilo.
Revi foto a foto, com um sorriso de saudade, de dor, com pena. E sempre a mesma pergunta “Porquê?”.
Não consegui apagar nada porque quero lembrar a consequência de cada momento que achei bom e depois me enganei.
Preciso de o fazer para não ouvir nem anjos nem demónios.
O tempo está fresco como a tinta que colo às paredes para esquecer a que ficou debaixo.
O tempo que passou ainda não é suficiente para secar por inteiro a dor do fracasso.
Meu Deus… o tempo esse malvado que assombra por ser tantas vezes rápido e outras tão lento.
As fotografias que se abriram sem querer vieram perguntar-me “quer eliminar?”.
E eu sei que é sim.
Terei de eliminar tudo.

Porque não suporto mais que o tempo saltite na minha cabeça como um dispositivo com flashes de sucessivos fracassos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu mais ou menos isto:

"Presta atenção aos sinais e não deixes que as loucuras do dia-a-dia te deixem cego para o melhor da vida. O amor..."