Sempre pintei um cenário perfeito para a minha vida: o homem
experiente e com uma vida estável, que quisesse ser pai.
Em sonhos chegava ao ridículo de planear qual seria a escola
dos filhos que nunca vieram.
A minha vida era toda um ensaio, imaginário.
Uma tontice de uma mulher já crescida e pelos vistos pouco
inteligente.
Tive alguns namorados e não tenho razão para ter vergonha
porque a vida é feita de um somatório de vivências.
E eu vivi tudo o que me apeteceu.
Que privilégio.
Apaixonei-me perdidamente por poucas pessoas.
Dessas grandes paixões nenhum deles quis acompanhar os meus
sonhos.
Carregavam todos uma mochila demasiado pesada para mim: com
outras experiências mal arrumadas e filhos que assombravam a felicidade e a
culpa.
Eu nunca soube lidar com os filhos dos outros.
Como também não fui o primeiro interesse de ninguém.
Os anos passaram e marcaram-me.
Hoje acredito menos nos outros e menos nas paixões
arrebatadoras.
O que é demasiado arrebatador mata-nos.
Decidi que tinha de desistir do estatuto e do mundo recheado
de jantares e promessas de uma vida a dois, de casamentos que nunca me foram
propostos, nem filhos planeados.
Foi tudo pó.
Encontrei uma pessoa sem os requisitos que tinha traçado
numa tabela de exigências.
Eu, esta palerma que acha que amor leva rótulos.
Nos lugares onde ficava sozinha porque alguém me deixava,
ele estava lá.
Nos momentos em que me fui maltratada ele aparecia para me ver.
Encontrei uma pessoa que me aparecia a brilhar, quando eu o
escondia para que ele desaparecesse.
E fui deixando ficar e percebi que mais do que deixar, a
sorte era minha. Não dele.
Percebi que não há estatutos, nem apelidos sonantes, nem
mochilas com filhos.
Não serei rica e vai ser duro sim.
Posso na mesma ficar sozinha. Posso sim.
Mas não escolhi uma pessoa de forma remediada.
Escolhi a única que até hoje me quis muito.
Que não me escondeu.
Que fez planos e os cumpriu.
Que não viveu vidas paralelas.
Escolhi o melhor para mim.
E bolas tenho uma sorte dos diabos.
Os outros?
O que a inveja os vai por a dizer?
Paciência.
Com o tempo passa.
Eu que o diga.
3 comentários:
:)
Haja a vontade dos dois. Os outros são os outros.
:)
triste...
Alguns dizem que nossas vidas são definidas pela soma das nossas escolhas. Mas não são nossas escolhas que distinguem quem somos, é o nosso compromisso com elas...
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