outubro 29, 2013
outubro 24, 2013
Da nossa vida faz parte a aceitação dos outros.
Aceitar o que já vivemos como um carimbo do nosso álbum de vida.
E o que chega de novo como meta de aprendizagem, mesmo que não nos leve a um lugar melhor.
Às vezes somos obrigados a abrir o círculo para que outros entrem, mesmo não querendo.
E a vida passa a ser regida pelo nosso eu integrado no eu dos outros.
Chegar ao centro de encontro de nós próprios é talvez um processo que demore toda uma vida.
Talvez não chegue esta vida para aceitar tudo...
E este processo que me soa a invasão, causa-me mais dor que conforto.
outubro 23, 2013
outubro 18, 2013
Nas manhãs que ainda gelavam o nariz quando áamos à janela, já ela andava no campo desde madrugada.
A cozinha era aquecida pelo fogão a lenha, já tão negro de ter aquecido tantas mãos e tachos.
Sentava-me sempre numa mesa pequena com toalha de plástico ressequido e pegajoso e ficava a olhar à volta o verde ainda encolhido pela geada.
Havia uma taça castanha muito velha e já estalada, parada na mesa a marcar o meu lugar.
Usava-a sempre para misturar a cevada embebida em açúcar e mergulhar o pão com a margarina mais barata.
Fechava os olhos e aquele pequeno-almoço sabia-me pela vida, o melhor do mundo num só paladar, num só trago.
Lambia a boca toda à volta para apanhar o resto de cevada caida quase até às bochechas.
Vestia-me à pressa, sem banho tomado, e calçava as galochas.
E lá ia eu até ao cimo das escadas de mármore e gritava bem alto:
"Avoooooó Né?".
Ela gritava-me de volta no seu habitual cumprimento matinal.
"UUUUhhhhhhhhhhhhhh".
E eu seguia-a até ao rasto da sua voz e com o coração já tão cheio.
Hoje ao beber um café aguado no meio do meu trabalho e ao olhar pela janela para o céu frio e cinzento, procurei-a.
Não sei se anda lá por fora a cuidar dos animais e das plantas ou se agora anda mais perto de mim, mas senti saudades dela.
A minha avó era feita de aço, sem fraquezas, sem grandes afetos, nem choros, lutava ao frio e à chuva e à esturra do sol, por ela e pela família, era uma sobrevivente, sem ganâncias ou deslumbramentos pelo material, nem pelos outros.
A avó que hoje me falta, ensinou-me que só deixamos de batalhar no dia em que o coração decidir parar de repente...como o dela.
Mas há qualquer coisa aqui dentro que quando bate com mais garra é dela que vem.
É ela.
outubro 15, 2013
outubro 11, 2013
Chegou num fim de tarde de novembro.
Passou devagar pela rua acima enquanto o vento lhe abraçava o peito e abria o casaco pesado de fazenda.
As folhas de outono desviaram-se aos seus pés cada vez que pisou o chão, como se fosse dono de tudo.
Entrou e esboçou um sorriso vivo.
A pele fria e pálida fazia sobressair o negro do olhar escondido entre pestanas curtas.
Tirou as luvas de pele e pediu um chá quente.
O tempo não permitiu que se conhecessem o suficiente, ficou escondido entre tragos de sabor engolido à pressa.
Estendeu um convite e disse que o encontrariam mais logo naquela morada.
Ao levantar-se sorriu e saiu dizendo apenas sobre si que gostava do paladar dos coentros.
Chegou num fim de tarde. Livre.
E ficou.
saltos no tempo
Gostava de ter a pretensão de poder sonhar só com o meu mundo, à minha medida.
Os meus projetos, no meu tempo, na minha vontade.
No meu espaço privado entraria só quem eu quisesse, sem compromissos demasiado articulados.
Gostava de pensar em ter os meus filhos e que essa a vontade fosse partilhada numa esfera em que eu fosse a única dona, sem terceiros no somatório da minha família.
Planeei para mim tudo o que ouvi nos contos enquanto adormecia.
Planeei demais.
Gostava de amar alguém sem passado, nem bagagem, alguém que completasse comigo um caminho que é o primeiro para mim.
À minha volta nascem e batizam-se os bebés das amigas, fala-se do próximo e fazem-se contas à vida para o encaixar.
E eu faço contas à idade e salto fases da minha vida, como se tivesse hipotecada a viver num fim de prazo, no fim do que ainda nem comecei...
E carrego eu o peso da decisão que foi minha e pergunto-me porquê...
outubro 07, 2013
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