abril 22, 2016


Há dias em que custa mais, é mesmo assim.
Não é sempre perfeito.
Dias em que acumulamos mais desilusões e onde o mundo que tentamos criar não é cor de rosa, nem lilás.
São os dias em que percebemos que não mudamos tudo o que está à nossa volta e há sempre algo que nos agride do exterior.
Ontem morreu um dos cantores que mais gostava,  mas também morreu mais gente dentro de mim. Faz parte do meu imaginário criar heróis e pessoas intocáveis.
Que disparate, sou lá uma miúda para ter mitos e super humanos.
Esse talvez tenha sido sempre um dos meus maiores erros, elevar pessoas e ideias quando elas não passam de coisas reais, cheias de erros e defeitos.
Hoje pus no banho uma das músicas que mais gostava de ouvir na voz dele e não me importei de chorar. Chorar só.
Quando é triste há que aceitar que é triste.
Não há volta a dar.
Depois secam-se as lágrimas e guarda-se na gaveta das desilusões mais um elemento de uma coleção que já vai grande.
Fecha-se a gaveta e não se abre até voltar a colocar uma outra.
Porque sabemos que ela virá, mais cedo ou mais tarde.
Mas vem sempre já com menos dimensão, porque já é uma repetição de algo que doeu sempre muito mais quando foi a primeira vez.


abril 20, 2016



O tempo é o meu maior companheiro.
Acordo sempre à mesma, se não for mais cedo.
O carro fica sempre no mesmo lugar, onde já digo bom dia às novas pessoas que fazem parte das minhas manhãs.
Sigo sempre pelo mesmo passeio e  passo sempre à porta de um mesmo lugar, onde toca uma música ambiente agradável que me pincela o arranque dos dias.
Às vezes vejo-o à janela e trocamos um adeus de bom dia, outras vezes desce e vem dar-me um abraço.
Mudei de morada do mesmo escritório e passei a deixar o carro em casa de um velho amigo.
E é boa esta sensação de se regressar aos bons lugares e às boas pessoas.
É bom caminhar com melodias na cabeça, chova ou faça sol e sentir que o mundo só é seguro pelas pessoas que nos rodeiam.
Eu escolho as pessoas que me rodeiam.
Faço o meu mundo seguro pelas escolhas que também faço.
Sem montanhas russas, nem ciclones, nem raros dias de clima tropical.
Caminho pela minha vida amena porque optei por não viver sempre esgotada e no fio da navalha.
Caminho pelo lado do passeio de onde sinto que vem o sol, apesar do caminho ser mais longo, mas consigo ver-lhe melhor o horizonte.
Foi o tempo que me fez escolher o caminho.
No tempo que me dei a mim própria para ouvir a minha intuição.
E nem sempre foi fácil ouvir os silêncios do tempo, quando só queria respostas.
O meu caminho tem a melodia do passado e das pessoas que nele me habitaram e que transportei para os dias de hoje.
E tem as pessoas que escolhi para o presente.
Tem uma vida nova que me habita e uma memória detrás.
O caminho que hoje faço só existe porque ouvi os silêncios do tempo e permiti que a intuição falasse.
Eu preparei-me, hoje em sei.
E é por isso que agora estou pronta para receber o maior presente que pedi à vida.
Ela vem no tempo certo, no caminho traçado e escolhido.
A minha filha.


abril 02, 2016

Geralmente nunca sou a primeira a dar o passo em falso.
Mas geralmente sou a última a dar o passo que encerra tudo.