junho 27, 2016


Olho para o meu corpo ao espelho e pergunto se será possível sermos a mesma Joana.
A barriga não se perdeu totalmente, mas tem vestígios de um abandono qualquer, como uma bola de futebol que ficou meia vazia, sem alma para se continuar a jogar com ela.
No fundo uma cicatriz que ainda arde e cuja pele, quando toco, está rugosa como uma estrada antiga com raízes das árvores que rasgaram o alcatrão.
Não sinto o fundo da barriga, é como se parte de mim estivesse adormecida.
Tenho vontade de chorar quando vejo a minha barriga porque sinto-me assaltada...
A Maria do Carmo dorme aqui ao lado, mas já não mexe aqui dentro.
Foi o primeiro passo para a independência da minha filha...
Marcam-me umas olheiras pesadas das noites que não são mais minhas e a pele está mais branca do que os meus longos invernos.
A maternidade é a dimensão mais preciosa que uma mulher pode ter e o amor que se sente por um filho é tão sublime que nos invade às lágrimas.
Mas há uma destruição qualquer daquilo que já fomos e que parece que não volta mais a ser igual.

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