novembro 09, 2015

da minha natureza


Nos últimos meses tenho sentido que estou debaixo de água a tentar vir à superfície.
Sem sufocar.
Sem bater demasiadas vezes as pernas para aguentar o cansaço.
Nado, nado e ouço o coração  que parece às vezes querer deixar-me.
Nos últimos tempos achei que a dor me tinha domesticado.
Achei que o ritmo cardíaco tinha diminuído e a mente já estaria menos desperta.
A natureza faz sempre com que as feras hibernem, não é? Precisam de sobreviver.
Tenho andado assim.
A passar os dias para sobreviver à sua superfície.
Nada de grandes sonhos, nada de grandes crenças, nada de grandes coisas.
Ando zangada comigo porque pergunto o que me fizeram que me mantém debaixo de água.
Ando triste comigo porque estou lenta e resignada.
E as lutas todas que comprei sozinha?
E as que comprei com tanta gente atrás?
Tenho sido uma sobrevivente, mas ando a resgatar-me.
Mas há um segundo em que tudo muda no ritmo cardíaco.
Há um fragmento em que o corpo explode e sai da água.
Há um momento em que eu reapareço.
Há sempre um tempo em que a natureza exige que se regresse à origem do que é a nossa espécie.
E a minha nunca morrerá, nunca parará até eu levar o tiro certeiro.
A minha espécie é daquelas que adormece temporariamente, mas explode em personalidade quando a tentam destruir.
A minha espécie é daquelas que se fere toda, mas vai à luta para defender aquilo em que acredita.
Sou de uma espécie rara, das que não têm medo da dor, para afirmar a essência da natureza.
Mesmo que volte ao começo de tudo.
É mais forte que a minha espécie.

1 comentário:

Anónimo disse...

e por isso que eu te amo
por seres como es