setembro 18, 2015



Revejo amigos esquecidos pelo tempo e pelo orgulho de nunca se saber quem liga primeiro.
Falamos a correr para que anos de vida perdida caibam nas duas horas que reservamos um para o outro.
O vento bate no acrílico de um lugar em cima do Tejo.
Vem um gin.
Outro.
E as ervas aromáticas dançam lá dentro como o meu cabelo no ar.
A nossa vida passa em revista como um filme em fast forward.
Há umas mantas ali ao fundo - penso - mas o tremor que tenho faz-me hesitar se é do frio do vento, ou do confronto pelo meu recente passado.
Olho para trás e não sei como conseguir seguir de pé, erguida...
Tive as bengalas revestidas de tamanhas amizades.
Como esta que me ouve e quase me lamenta.
Num sorriso seco e sumido pergunta-me como consigo estar ali positiva e diante do mundo.
Respondo que não há tempo para quebrar, que a vida é curta e tenho pressa de resolver os caminhos que ficaram todos destruídos.
Em segundos fico em silêncio porque sei que a força se esgota e precisa de ser recarregada.
Sou só e apenas humana...
Talvez a manta não me tenha aquecido porque gelei, não pelo frio do Tejo que é cruel quando se chateia.
Talvez o gin não me tenha gelado as mãos pelo gelo que derreti nelas.
Talvez nem tivesse frio.
Talvez estivesse apenas em choque.
Talvez...
O tempo tinha acabado naquele dia para nós.
Levou-me a casa, como me levou a vida toda porque acha que cuidar é proteger.
Cuidar é um gesto tão raro que só acontece quando  há amor.
E eu concordo.
Subi a correr, à espera de voltar a aquecer e esqueci a nossa conversa.
Relembrei-a na perfeição hoje.
Porque me disse que em momentos de guerra, não há tempo para chorar os mortos, há que sair para defender até ao fim o que é nosso, o que nos resta.
A vida.
Não é pouco!

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