novembro 05, 2014


Juntamo-nos no fim do trabalho às escondidas num bar perdido no centro da cidade.
Os bancos são corridos e de madeira.
Encostamo-nos umas às outras embrulhamo-nos em mantas polares enquanto o frio se vai entranhando na pele,
A cidade ficou esquecida lá fora.
Pedimos gin tónico como se bebêssemos água e soltamos conversas num desespero de quem não tem tempo e algo fica sempre esquecido ou por dizer.
Umas têm os maridos a dar banho aos filhos enquanto não chegam para jantar e outras não têm ninguém à espera.
Bebemos e rimos e fazemos brindes.
O mundo parou-nos nas mãos.
Sinto-me chegada a um lugar qualquer em paz.
Nada me espera.
Não há ninguém.
Não vai haver tão depressa a não ser que o mundo me surpreenda.
Mas eu estou em paz assim.
Posso ficar ali a noite toda ou sair para me encontrar num jantar a dois. A mil.
Posso tudo nesta fase da vida.
E apesar de não ter nada, pela primeira vez sinto que vivo bem no meu lugar, sozinha no mundo. Mas tão perto de mim.
Estou sozinha porque fiz escolhas e fechei portas e vivo com isso. Mas estou bem como sou.
Rimos e fazemos brindes.
Ensinam-me técnicas para um jantar brilhante no dia em que queira impressionar alguém.
Registo tudo a sorrir, sem a aflição de não ter mais do que aquilo que sou.
Somos várias mulheres.
Temos vidas muito diferentes e complicadas.
Mas hoje sou feliz por ser só eu.
Dona do meu destino e da minha história de vida. Da minha vontade.
Não há nada à minha espera a não ser o silêncio da casa e o que vem de mim.
Um dia talvez passe e voltem a resgatar-me a gargalhada e o sorriso e a alma.
Mas hoje sei que não sou parte de ninguém, ninguém se orgulha de mim ou me exibe como mulher. e eu já não preciso mais disso. Acabou-se o tempo.
Ninguém me recorda à distância ou me ama em silêncio.
Hoje sou apenas eu por mim.
Na minha conta de que me basto.
Porque a vida já me ensinou que não preciso de ninguém para ser feliz.
Para me encontrar com 6 amigas num bar...
E beber gin tónico e brindar à vida.
A minha vida que seguiu só comigo.
Sem poder contar contar com homem algum.
E não é que eu sou feliz assim?
Talvez seja sinal que algo está então prestes a começar entre mim mesma.


Sem comentários: