janeiro 09, 2014

10 anos


Talvez nos últimos 10 anos não nos tenhamos visto muito.
Foram os últimos 10 anos que mais nos fizeram crescer a todos: a saída da faculdade, o primeiro emprego, as grandes decisões de amor, as grandes falhas emocionais, as desilusões no trabalho onde não se fazem os melhores amigos, a primeira casa de casada, a primeira casa de solteira de novo, as contas por pagar, o primeiro ordenado e os impostos pagos.
Veio ao meu trabalho por coincidência e abriu uma busca desenfreada no facebook até me encontrar.
Fui resgatá-la à receção, como a resgatava nos seminários na faculdade quando comprávamos guerras de ideais com os professores e não tínhamos medo de nada.
O tempo voou como voava quando achavamos que dominavamos o mundo e a verdade.
Despedimo-nos com a promessa de que o tempo não nos pode afastar mais.
Ela foi-se embora e eu fiquei parada e perdida em pensamentos.
"Lembras-te como éramos?".
O tempo mudou-me, arrefeceu-me o sangue na guelra e a postura destemida para ir de frente contra tudo.
O tempo fez com que eu casasse e me separasse, com que quisesse ter uma família e a perdesse.
O tempo deu-me a ilusão que as carreiras se fazem pelo mérito e pela verdade e nunca mais me deixou crescer, tornou-me apática, resignada de ideais.
O tempo fez-me acreditar que cada pessoa constrói um império de sonhos, amor, família, mas o tempo também ensina que quanto mais se sonha, mais alto se quebra.
E o império passou a casa desabitada sem nunca ter tido a alma para ser preenchida.
Em 10 anos percebi que o sonho é a arrogância dos ignorantes.
Perdi quase tudo e tive de novo a arrogância de acreditar.
Mas o mesmo tempo que dá, rouba.
Parada a vê-la sair e a levar parte daquilo que já fui há 10 anos...
10 anos para perceber que deixei de ser livre.
Sonhadora.
Arrogante.
Destemida.
Ignorante.
Não é grave.
Podia ter demorado muito mais...


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