março 20, 2012

meninas perfeitas não são deste blog



Podia ser formatada para trazer a caixinha de plástico com o jantar ressequido de ontem e almoçar hoje.
E podia ir à missa aos domingos e mentalizar-me que é útil pôr as crianças na catequese e integrá-las nos grupos católicos que se espalham pela cidade e espalham moralismo como os cogumelos.
Podia ter uma aliança no dedo e ter-me ficado pelo mundinho que me rodeou desde a infância até há poucos anos e falaria das idas à neve e das compras em NY e das botas de salto compensado compradas nos últimos saldos.
Podia fazer almoços de família lá em casa e criar novas receitas do grupinho da bimby e querer ser sempre a dona de casa perfeita e prendada.
Podia não pensar em questionar tudo e aceitar a vida como ela é e dizer "graças a Deus" mais vezes e pedir aos outros que se ligassem mais a Deus para seguirem o caminho certo da penitência.
Podia ter aulas de grupo onde as mulherzinhas que as habitam vão todas com roupinha a condizer, falam enquanto se abanam flacidamente e a única coisa em que não estão interessadas é fazer desporto e apenas dão à língua.
Podia combinar jantares de gente amarga com a vida e passar a noite a medir quem pôs mais likes no facebook.
Podia e tive tudo para ser mais uma menina convencional, formatada e resignada ás rotinas e aos padrões sociais. Rodeei-me de tudo para ser pouco, porque o mundo se faz maioritamente de gente assim.
Podia ser assim. Seria mais uma pessoa integrada no padrão.
Mas não me encaixo.
E então?

Reclamações não são aceites, nunca disse que era diplomata.